data-filename="retriever" style="width: 100%;">Concretamente, tirante conceitos esotéricos e alguns valores, digamos, iniciático-religiosos, nada há que nos garanta seja a passagem de ano, por si só, capaz de transformar o que está posto em nossas vidas em algo melhor, pior ou simplesmente diferente. Mas esse embate entre o racional e o emocional/espiritual (crendices?), fruto das nossas dúvidas existenciais e das decorrentes incertezas e inseguranças no enfrentamento das asperezas da vida, nos leva, a cada início de ano, ao exercício mais contundente do sonho e da esperança como se estes, por si mesmos, fossem suficientes à provocação das mudanças e transformações a que aspiramos.
Não serei eu, todavia, quem haverá de pôr em dúvida as razões de ordem mística que orientam e presidem nossa caminhada em direção à realização de nossos sonhos e desejos, nem serei eu quem levantará a voz para bradar contra os modernos Nostradamus da previsão de curto prazo.
Mas, todo fim/início de ano, penso em recortar dos jornais as previsões que fazem tarólogos, numerólogos e pais de santo para, ao cabo de 12 meses, confrontá-las com a realidade vivida e seus enleios, suas idas e voltas, seus acertos e erros, com o espelho retrovisor de nossa consciência, que nos mostra a importância de, sem tirarmos os olhos da estrada à frente, não deixarmos de olhar para trás.
Previsões genéricas, tipo "um artista famoso se acidentará", "morrerá um astro do cinema ou música internacional", "o time tal tem boas chances de, se fizer isso ou aquilo, ser campeão", "a economia continuará, ao longo do primeiro semestre, assim ou assado, com boas perspectivas de mudanças no segundo semestre", "haverá mudanças no governo", etc, qualquer um pode fazer.
De resto, em meio a dezenas de previsões (mesmo as mais específicas), há, matematicamente, boa chance de alguma dar certo. Então, mesmo com um pé no misticismo, que faz parte de nossa cultura, e não objetando ponderações aos previsores do futuro imediato, fico sempre com o outro pé atrás em relação ao que preveem para o ano novo magos, videntes, cartas e búzios. Especialmente em relação à Economia e à Política, ciências nas quais não raro se enredam e se atrapalham nos vaticínios os próprios economistas e os mais respeitados analistas políticos.
Obviamente, há previsões de fatos que, às vezes sem qualquer contato aparente com a realidade, semeiam, no terreno pantanoso de nossos sonhos, a expectativa de que germinem e se tornem reais. Por isso, neste início de ano, tenho espichado os olhos na direção do horizonte na esperança de vislumbrar algum indício de que as mudanças que queremos estão a caminho. Infelizmente, do que leio, vejo e ouço, nada indica a possibilidade de suavização das estradas que percorreremos.
De qualquer forma, como, segundo a sabedoria popular, o futuro a Deus pertence, deixemos assim. Vá que o horizonte se faça limpo dos borrões que o toldam e nos mande sinais de que o tempo das transformações, da paz, do entendimento e da justiça social está chegando (para contrariar nossos vaticínios centrados nos processos lógicos de análise da vida)? Oremos!